terça-feira, 29 de abril de 2008

A contabilidade funciona

Por: Cláudio Gradilone

Parmalat. Enron. WorldCom. Tyco. Apenas algumas das empresas envolvidas em gigantescas fraudes contábeis nos últimos anos. Os escândalos vitimaram empresas de auditoria sólidas como a Arthur Andersen e forçaram mudanças na lei americana, como a introdução da lei Sarbanes-Oxley, que aumenta a responsabilidade de executivos financeiros, auditores e contadores. Além disso, as fraudes abalaram a credibilidade dos balanços em si. Para Ariovaldo dos Santos, professor de contabilidade da Universidade de São Paulo e responsável pelo anuário Melhores e Maiores, de EXAME, esses problemas vão colocar em dúvida a credibilidade do trabalho dos contabilistas. "As irregularidades foram descobertas justamente por meio da análise contábil", diz Ariovaldo. A Parmalat italiana parecia uma empresa sólida, mas escondeu um rombo bilionário em seus balanços durante anos, enganando auditores, bancos e acionistas. Ainda assim é possível dizer que a contabilidade funciona? Não vamos confundir o caso de determinada empresa com o fracasso da contabilidade como um todo. Os princípios contábeis são sólidos, consistentes e mudaram muito pouco ao longo dos anos. Os problemas que ocorreram na Parmalat, na Enron e em outras corporações decorreram de práticas contábeis incorretas. Aliás, as fraudes foram descobertas exatamente por meio de uma análise mais apurada dos balanços. Ou seja: no longo prazo, a contabilidade não mascara os problemas, ela os demonstra e os comprova. Mesmo assim, um contador mal-intencionado pode usar a flexibilidade das normas para mudar o resultado final de uma empresa. Há limites para isso. É possível esconder algo errado durante algum tempo, mas não para sempre. A contabilidade não é uma ciência exata, mas é muito lógica. Um contador mal-intencionado pode eventualmente adotar uma interpretação incomum e forçar um resultado melhor do que a realidade num dado momento. Se isso se tornar uma prática comum, porém, vai ser fácil perceber que há algo errado. Uma reincidência no erro ou na interpretação "incomum" mostra uma fuga sistemática do princípio. A nova lei americana Sarbanes-Oxley não é uma prova de que a contabilidade precisa mudar? A nova lei não alterou um princípio contábil sequer, apenas tornou os procedimentos mais rígidos e definiu melhor a responsabilidade dos executivos e dos auditores. Agora, os executivos financeiros também respondem pelas fraudes, algo que não tem relação com a contabilidade em si. E o caso específico da Parmalat? O rombo estimado em 14 bilhões de euros não apareceu num trimestre. Não conheço os números em detalhes e por isso não quero opinar. Mas os balanços mostravam que a empresa possuía cerca de 6 bilhões de euros em caixa, dinheiro inexistente. A manutenção de uma quantia tão grande em caixa deveria, no mínimo, ter chamado a atenção dos auditores. Um telefonema para o banco da Parmalat perguntando se os números lançados no balanço estavam corretos poderia ter evitado muitos problemas.

Fonte: http://portalexame.abril.com.br

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